sexta-feira, 23 de agosto de 2013

"Acautelem-se os homens contra o erro e o engano..."

"O Senhor Salvador levantou a voz e com incomparável majestade disse: 'Saibam todos que depois da tribulação se seguirá a graça; reconheçam que sem o peso das aflições não se pode chegar ao cimo da graça; entendam que a medida dos carismas aumenta em proporção da intensificação dos trabalhos. Acautelem-se os homens contra o erro e o engano; é esta a única verdadeira escada do paraíso e sem a cruz não há caminho que leve ao céu". (Dos Escritos de Santa Rosa de Lima, virgem).
Gostaria de ressaltar a importância do que está grifado acima nesse belíssimo trecho dos Escritos de Santa Rosa de Lima que está presente hoje - dia de sua festa - no Ofício das Leituras. O motivo é simples: grande tem sido intensidade com que se condena as falhas de outros, e não digo apenas de sacerdotes ou fiéis, mas de cada indivíduo. Isso é preocupante. 

"Mas tu não me invocaste, Jacó, porque te cansaste de mim, Israel. Não me trouxeste os cordeiros dos teus holocaustos, não me honraste com os teus sacrifícios. Não te obriguei a servir-me com tuas oblações, nem te cansei com pedidos de oferendas de incenso, não me compraste por dinheiro cana aromática, não me saciaste com a gordura dos teus sacrifícios. Antes, com teus pecados me encheste de trabalhos, cansaste-me com tuas iniquidades. Eu sou o que apaga tuas transgressões por amor de mim, e já não me lembro dos teus pecados. Aviva-me a memória; juntos entremos em processo; enumera as tuas razões, a fim de seres justificado." (Is 43, 22-26).

A passagem acima serve de auxílio para refletirmos sobre a cautela devida para com os erros e enganos. No Antigo Testamento vemos o Senhor realizar uma aliança com seu povo - Noé, Abraão, etc - apesar das transgressões cometidas que levam o homem a ferir a intimidade com Deus - Adão e Eva, idolatria do povo no deserto, etc - e, consequentemente, consigo mesmo, como é o caso de Caim e Abel, por exemplo. Na passagem acima, o Senhor cita algumas transgressões de Jacó e Israel, mas em seguida fala que por amor os perdoa e esquece seus pecados. Ora, Israel e Jacó somos nós, povo de Deus, também pecador, mas alcançados pela misericórdia do Pai. Acaso poderíamos encontrar razões para justificar a nós mesmos perante o Criador que por amor nos deus todas as coisas ? Se pecamos, melhor confessarmos nossos pecados, sem temor, pois por Cristo é que fomos justificados (cf. 1Jo 1, 8 - 9).

"Este é meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei". (Jo 15, 12)

Somos imensamente amados por Deus - que é Pai, Filho e Espírito Santo - contudo, parece que esquecemos de transmitir tal amor para nossos semelhantes. Não me refiro apenas a uma transmissão oral, que, de fato, torna-se mais simples, mas através de atos. Certamente não é fácil amar, mas temos um exemplo no qual nos espelhar - Jesus Cristo - e o exercício é indispensável. Portanto, eis a importância de sermos cautelosos para com os erros cometidos, tanto nossos como de outros. É um exercício para amarmos como somos amados. Do contrário, sempre seremos levados pelo impulso da ira: o de expôr, condenar, atormentar, impondo aos outros - ou até nós mesmos - um fardo que também não temos forças para carregar.

"Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve". (Mt 11, 28 - 30). 

Portanto, aprendamos com Cristo, que agiu de misericórdia para com os pecadores - os quais chegavam até a serem marginalizados da sociedade - que cruzaram o seu caminho, alguns buscando redenção enquanto outros eram alcançados primeiramente por sua ardente caridade que levava paz e libertação, às vezes manifestada de forma física, mas que, sobretudo, alcançava o íntimo de cada um. Aliás, todos eram alcançados primeiramente por Cristo, já que se o buscavam era porque tinham ouvido falar de seus feitos. 

Por fim, gostaria de recordar as palavras do Papa Francisco no encontro com jornalistas no vôo de regresso a Roma, após a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro: 
"Mas eu queria acrescentar mais uma coisa sobre isso: eu vejo que muitas vezes na Igreja, fora deste caso e também neste caso, vão-se procurar, por exemplo, os «pecados de juventude» e isso é publicado. Não se trata de delitos, atenção; os delitos são coisa diferente: o abuso de menores é um delito. Não se trata disso, mas de pecados. Ora, se uma pessoa – leigo, sacerdote ou religiosa – cometeu um pecado e depois se converteu, o Senhor perdoa; e quando o Senhor perdoa, o Senhor esquece. E isso é importante para a nossa vida. Quando vamos nos confessar e dizemos, com verdade, «eu pequei nisto», o Senhor esquece e nós não temos o direito de não esquecer, porque corremos o risco de que o Senhor também não se esqueça dos nossos [pecados]. Isso é um perigo. Isso é importante: a teologia do pecado. Muitas vezes eu penso em São Pedro: fez um dos piores pecados, que é renegar a Cristo, e com este pecado Cristo o fez Papa. Devemos pensar muito."

Espelhemo-nos em Jesus que nos amou até o fim entregando a si mesmo pela redenção dos nossos pecados e sejamos violentos de coração para não nos deixarmos levar pela ira e pelos impulsos, condenando injustamente aqueles que, como nós, encontrão justificação no Cristo pregado na cruz. 

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